Quem tem medo do Umbral?
Frederico Coelho Goulart de Andrade
A doutrina espírita afastou o temor humano da morte com a comprovação da imortalidade do Espírito (questão 149 do Livro dos Espíritos). Afastado o receio da extinção da vida, a preocupação seguinte foi com o destino da alma após o seu desprendimento do corpo físico. O espiritismo também elucidou a questão, afirmando que até que se alcance a condição de Espírito puro (questão 170 e 226 do Livro dos Espíritos) haverá a necessidade das reencarnações, destinadas, portanto, ao aperfeiçoamento do Espírito (questões 166 e 167 do Livro dos Espíritos). No intervalo das encarnações fica o Espírito na condição de errante (questão 224 do Livro dos Espíritos), e é na erraticidade onde este pode alcançar o Umbral, que passou a ocupar a condição de maior preocupação do ser humano no aspecto espiritual. No entanto, assim como se sucede com as demais questões da vida, é o desconhecimento o principal responsável pelo sentimento de temor. Principalmente por esta razão cabem aqui algumas elucidações sobre o assunto.
O Umbral, conforme nos informa o nosso irmão André Luiz, circunda o planeta e inicia-se na própria crosta terrestre, servindo de destino aos Espíritos que demoraram “no vale da indecisão ou no pântano dos erros numerosos1” deixando de cumprir os deveres sagrados que haviam se comprometido anteriormente. Desta forma o Umbral se destina as “almas irresolutas e ignorantes, que não são suficientemente perversas para serem enviadas a colônias de reparação mais dolorosas, nem bastante nobres para serem conduzidas a planos de elevação2”.
Como “a morte física não significa renovação para quem não procurou renovar-se3” faz-se necessário a existência de um local destinado, sobretudo, “ao esgotamento de resíduos mentais2” inferiores, tais como ódio, rancor, raiva, inveja, ambição, orgulho e demais sentimentos assemelhados. O Umbral é “uma espécie de zona purgatorial, onde se queima a prestações o material deteriorado das ilusões que a criatura adquiriu2”.
Não há que se olvidar que o Umbral também faça parte da criação Divina, não estando os Espíritos que por lá transitam desamparados da proteção do Pai Celestial4. Ao contrário da crença popular, não é o Umbral um local destinado ao sofrimento, mas sim ao aperfeiçoamento do Espírito, que terá condições de identificar “o que lhe falta para ser mais feliz e, desde então, procura(r) os meios de alcançá-lo5”.
É nobre portanto a finalidade do Umbral, já que destina-se a depuração do Espírito. Jesus já afirmava que “não são os que gozam saúde que precisam de médico6”. Tudo o que não serve para a vida superior torna o Espírito doente, por isso, não é de se admirar que “o pão, tão saboroso ao paladar saudável, seja enjoativo ao paladar enfermo, e que a luz, amável aos olhos límpidos, seja odiosa aos olhos doentes7”. Alcançada a depuração necessária o Espírito prossegue em sua jornada, não ficando no Umbral sequer um segundo a mais do que lhe é preciso.
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